sexta-feira, junho 30, 2006

Eu digo A, tu dizes B. Então eu sou 1 e tu és 2!

O Nascimento, como a Linguagem, segue códigos rígidos(através da educação) que nos aproxima, desde logo, dos que nos estão social e culturalmente mais próximos e podem, hipoteticamente, vir a ser os nossos braços-direitos. Mas isto, analisado com dedicação -é uma temática que aprecio especialmente- é muito complexo e pode ser consideravelmente nefasto. E exponho-vos a minha reflexão: nascemos no seio de uma Família que, naturalmente, tem Amigos com quem se relaciona intimamente e com quem partilha códigos: de gosto, de estar, de ser, de pensar, de querer. Contudo, e supondo que os Amigos tenham descendentes de idades próximas, a nossa relação -embora de infância- pode não ser a mais querida e fraterna, pois tal como podemos ambos seguir as regras e atitudes de nossos Pais(e portanto seremos também nós parecidos) pode ser somente um de nós a segui-las, ou sermos ambos terrivelmente diferentes: entre nós e dos nossos Pais. Assim, esta Relação de infância pode não ser de Amizade, ou sê-lo-á na medida em que nos respeitamos e cumprimentamos com uma atitude familiar. Porém, passionalmente, os Amigos são os que escolhemos e não os que, de alguma forma, apareceram no nosso caminho, sem que tenhamos desejado que nele continuassem e que para ele contribuíssem activamente, ou nos foram subtilmente impostos.
Também na Linguagem, que é muito mais que a Língua(a Língua que cada um transporta enquanto identificadora com um colectivo mais vasto, uma Nação, é também importante), os códigos podem ser facilitadores de aproximações, na medida em que os estratos sociais comunicam efectivamente com discursos semelhantes e estes possibilitam que as trocas e a aceitação seja mútua, criando um ambiente de pertença que é agradável ao Ser Humano enquanto ser social que parece ser. No entanto, os diferentes códigos, regras e termos linguísticos afastam, não raras vezes, indivíduos que se estimam e nutrem sentimentos recíprocos de fraternidade manifestados naturalmente no decorrer do processo de socialização(que já se pode desenvolver com elementos de outros estratos). E outros há, que embora se detestem, levam a cabo uma tentativa frustrada de manutenção das aparências: ou porque ambos dizem X, ou porque são N.
Nestes casos, a Linguagem e o Nascimento podem ser perversos, afastando, à priori, pessoas que naturalmente tendem a manifestar comportamentos e raciocínios numa linha próxima, sendo que a linha ténue que os separa é de clara organização social, criada pelo Homem, e de cariz divisionista.
Portanto, se o código linguístico, ou o Sangue, superficialmente, nos identifica com A ou com B, este não é o mais relevante para a Natureza Humana. Pois ela tende a aproximar indivíduos sem consultar imposições sociais ou vontades de outrém e cria, normalmente, entre amigos como entre comunicadores, ligações que são infinitamente superiores às separações que qualquer regra parece separar, numa primeira análise.
Assim sendo, é a Nobilitas Literaria e a linguagem da Verdade, do despojado de interesse ou obrigação, que move as sociedades humanas.
Quero lá saber se diz vermelho ou encarnado: como é Pai quem se preocupa, é Amigo quem nos Ama(e nós Amamos)... Nem tão pouco interessa a "azulidade"(que já nem sequer é a Tradicional, agora é atribuída pelas revistas cremes/acastanhadas) de Sangue: é mais Nobre o Coração Azul.

...na actualidade verifica-se e defende-se o contrário, mas vivemos numa sociedade sem Valores, portanto é melhor não ser norma!
TAM

2 comentários:

  1. Completamente de acordo!


    ...Para já te dou os parabéns: este texto, para quem já leu outros tantos escritos por ti, soou-me a diferente...
    Parece que estão a actuar em ti as forças da maturação da escrita...(fora de questão depreender daqui que a tua escrita não seria já madura, que o era e, para além disso, não sou ninguém para fazer esse tipo de julgamentos)... Entenda-se, pois, por maturação, mudança.
    Acredito que a mudança, como forma de crescimento, é o caminho para a maturidade...com passos adiante e para trás.


    Força e que reveles sempre o que pensas... igualmente ao habitual- a como sempre fazes- ...ou não!



    És tu quem constrói a tua canoa...

    Se esta afundar, sempre podes tentar alcançar a margem a nado; mas o mais fácil será construir de base uma canoa bem feita, original, robusta, com as suas fragilidades, mas de troncos fortes...

    assim é a vida...

    ou assim deveria ser...

    ...

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