quinta-feira, setembro 21, 2006

Convidado Especial continua:

Idade Média, uma idade das trevas…porquê? - parte II

É com um enorme prazer que intervenho novamente neste blog, agora para complementar o artigo anterior de combate ao preconceito de que o período medieval é alvo. No passado artigo limitei-me a tocar, além da origem do preconceito, em apenas algumas dimensões que marcam o período em questão (poder régio, estados, sociedade e guerra). Desta feita irei referir-me a outros medievos assuntos (religião - cristianismo e economia), igualmente descorados e mal interpretados quanto ao seu valor pelos detractores desta época.
Decretada a religião oficial do Império Romano por Teodósio em 380, o cristianismo viria a ser seguido pelos povos bárbaros invasores (até aí pagãos ou arianos), cujos reis perceberam as vantagens da sua conversão imediata à fé de Cristo, criando-se então as condições para que esta religião se enraizasse de vez no Ocidente e se tornasse na forte matriz cultural que hoje conhecemos (além de ser ainda a religião mais seguida neste espaço). Rico na doutrina, o cristianismo principiou a Idade Média à luz das reflexões de Padres da Igreja como Sto. Agostinho, autor da obra “Cidade de Deus”, cuja visão teológica passava pela existência de uma “cidade” (mundo perfeito) do bem para a qual todos deviam contribuir, raciocínio este que subjaz a quase todo o pensamento medieval (sobretudo o da Igreja que pautava tudo o resto). Com forças para resistir ao poder temporal, a Igreja reestrutura-se pela Reforma Gregoriana, separando o “mundo secular” do “mundo religioso. No séc. XIII surgem pois as ordens mendicantes, exaltando novos valores (ainda hoje enaltecidos): a pobreza, a vida apostólica e o dever da assistência. Também na Idade Média existiram inovações e aperfeiçoamentos nos sacramentos e hábitos religiosos: surge a confissão privada e auricular (como hoje a conhecemos) bem como o hábito da peregrinação, valorizando-se a pregação e a oração. Apesar de a Igreja ser constantemente acusada de intolerante para com os membros de outras religiões, saiba-se que na época medieval a vida de “não-cristãos” em reinos da Cristandade devia ser respeitada pelo principio canónico do “apartamento”, que desaparece pois na alvorada da época moderna, dando lugar a enormes perseguições a muçulmanos e a judeus.
A economia medieval é actualmente bastante menosprezada, caluniada de estagnada quando não de inexistente. De maior ou menor pujança, a economia variava consoante as épocas e as regiões, o que é certo é que o mundo medieval foi pleno de produção e de trocas comerciais. De uma economia essencialmente agrária (cujas inovações permitiram o “boom” do séc. XII), o ocidente garantia a partir dos campos a sustentabilidade das cidades onde as indústrias transformadoras se iam “refinando”, bem como as variadas oficinas de artífices. Pela rota do Levante chegavam as preciosidades do oriente com destino a importantes zonas comerciais (como a Flandres) onde mercadores ricos emergentes (burgueses) esperavam lucrar com as vendas destes produtos, fazendo desenvolver a actividade bancária e com esta novas formas de transacção (como o cheque ou a letra de câmbio).
Espero com a “postagem” deste artigo ter conseguido ajudar a desmontar os preconceitos existentes acerca deste período. Para não tornar fastidiosa a leitura dos meus artigos voltarei em breve para a conclusão da temática medieval.


por António Costa