quinta-feira, julho 26, 2007

utopias - 2

1. Nenhuma utopia se cumpriu totalmente até hoje. É sempre uma política de cenoura que atrai o burro, que nunca a chega a comer. É sempre um engano.
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2. Em contraste com a ausência de utopia na política, há valores que - esses sim - se devem cultivar, valores que nos puxam para cima. Alguns, estão implícitos nas várias religiões que habitam no mundo. Outros, são relativos ao regime político que governa a região. Os valores, a religião e a educação são as respostas que se dão à mediocridade da igualização das pessoas. São estes valores que elevam a fasquia de uma comunidade, que devem ser regados no seio das famílias e nunca como um desígnio nacional que oprime a liberdade de educação por parte das famílias e a liberdade religiosa por parte das pessoas e das igrejas.
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3. Assim, a política deve ser horizontal porque real; e incentivadora de verticalidade, porque apoia as famílias, a religião, todos os valores que são úteis à comunidade, e todos os direitos implícitos à dignidade da pessoa humana. O sonho e a utopia devem reservar-se ao íntimo das pessoas e nunca se devem assumir como projectos comuns e políticos de poder.

utopias

Comunismo e Sovietismo:






Fascismo e Mussolini:





Nazismo e Hitler:



Neo-imperialismo lusitano:








Conclusão:

Apostar numa utopia para salvar um país é como apostar num casino. É sempre um jogo de sorte ou de azar. Normalmente, de azar. A utopia que parte de uma visão utópica da realidade, deu sempre maus resultados; a utopia que quer responder a uma visão realista do contexto político, económico e social de uma comunidade, precisa de aliar sorte ao engenho, sendo que a sorte não se fabrica - ao contrário do que às vezes por aí se diz. Brincar às utopias é muito bonito e poético, sejam essas utopias de amanhãs que cantam, sejam as utopias apontadas ao passado, dos reaccionários. Tudo isso é um exercício intelectual interessante. Mas o que está em jogo são vidas humanas, são pessoas com dignidade. Nenhuma utopia se impôs sem guerra, e todas as utopias caíram com as guerras. A utopia é fumo, pois fabrica figuras engraçadas e cativantes; é também fumo porque essas imagens não têm consistência real.

Como disse atrás, brincar às utopias pode ser engraçado como exercício intelectual. Mas não contem comigo para aplicar utopias à acção política, pois o que está em causa é demasiado valioso para admitir riscos: a vida de pessoas. Estas brincadeiras deram sempre mau resultado.

sexta-feira, julho 20, 2007

não-lugares como realidades possíveis

Desde cedo que Portugal perdeu a sua capacidade de "utopizar". Contudo, graças a ela, estamos cá enquanto Nação. Hoje, julgamo-la indesejável e oca. Por oposição, considera-se o realismo/o real. Como se este só existisse dada a ausência de utopia. Parece ter-se transformado em fardo nacional, esta incapacidade de ultrapassar um certo sebastianismo messiânico e de pensar, reflectir e desejar romper com paradigmas há demasiado tempo vigentes ou recentemente adaptados dos ventos que sopram do Atlântico.
Nem todos somos políticos, mas quase tudo é entendido como política, portanto tenhamos atenção. Os estrangeiros nacionais governam-nos. Novas gerações se preparam para lhes dar seguimento e nós vamos deixando que isto, impunemente, vá acontecendo.
Temos de nos revoltar, Caros Compatriotas!
Não podemos permitir a venda da Soberania Nacional, nem do que nos torna únicos e exemplo vivo de uma Civilização moderna!
Temos de agir rápida e eficazmente!
Derrubemos o Estado!
A Nação tem de saber quem a Governa, ou destituir a instiuição do Governo de governar!
Readquiramos o Orgulho em Ser-Português!

TAM

Outra sugestão de leitura

PORTUGAL - O Pioneiro da Globalização (2007)

quinta-feira, julho 19, 2007

um pouco mais de realismo

O caro TAM fez uma série de afirmações e acusações que, embrenhadas na sua rica prosa, quase passam por recados. Então vamos lá ver, ponto por ponto e de uma forma sistemática:
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1. O império. Vamos tornar claro o tipo de império de que falamos. Falamos de um império político, com fronteiras? A História mostra que todos os impérios políticos degeneraram em despotismos. Não encontram nenhum caso excepcional. Falamos de um império económico? Está claro que o comércio internacional não tem as mesmas preocupações morais que tem o comércio a nível interno. É de um pretenso império cultural que falamos? Seja. É uma imagem simpática, poética, mas que nas relações económicas e políticas significa pouco ou nada. Só quem se quer enganar a si próprio, ou quem quer enganar outros, é que ainda acredita que os brasileiros e o Brasil precisam dos portugueses e de Portugal para negociar com os europeus e com a Europa. Se os países de Língua Portuguesa formassem uma associação (ou comunidade) forte, ao nível da Commonwealth, a história seria ligeiramente diferente. Mas não é isso que temos. Concluindo este primeiro ponto - História dos impérios: "lição obrigatória ao futuro descrente e decadente"? Concerteza. Para que não repitamos os erros do passado e evitarmos discursos imperialistas, sejam esses discursos de carácter comunista, capitalista, ou até tradicionalista.
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2. O dever. O meu único dever é para com a verdade. Considero que a análise dos assuntos exige do homem sábio um espírito aberto e que siga a verdade para onde quer que ela vá, embora através de meios que estejam de acordo com a moral. Um juiz não pode ser cego, nem surdo: ouve todas as hipóteses com espírito aberto à verdade, e só no fim decide. Não sou sábio, nem sequer sou juiz. Mas tento buscar a verdade com a mesma abertura de espírito e prudência com que o sábio e o juiz a buscam. É nesse processo que se distingue melhor quem é o inimigo - se é que há inimigo - e quais são os aliados. Não considero os Estados Unidos um nosso inimigo, nem penso isso da Europa Continental. Acho que estão ambos do mesmo lado e formam juntos uma civilização - a Civilização Ocidental (extensível ao Canadá e à Austrália).
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3. O anti-americanismo. Tenho para mim que os Estados Unidos nunca quiseram ser a principal potência mundial. Foram-no por acidente. Aliás, toda a História dos Estados Unidos está repleta de grandes conquistas involuntárias. Os americanos eram patriotas e não se quiseram tornar independentes: foram forçados a isso. Os EUA são o fruto de más políticas fiscais e coloniais. No taxation without representation. Mas também são fruto de liberdades pensadas e adquiridas desde que são Nação. Cresceram, em alguns momentos por acaso: como comprova a compra a preços de saldo da Louisiana aos franceses e do Alasca aos russos. Os Estados Unidos, na sua base, sempre se preocuparam muito mais em desenvolver-se internamente e fazer comércio pacífico a nível externo. Foram obrigados a intervir na I Guerra Mundial na Europa, a pedido de vários países. A Europa não aguentou a humilhação de reconhecer que já não era capaz de resolver uma guerra sozinha. Na II Guerra Mundial, uma vez mais os EUA só entraram quando a tal foram obrigados. Mais uma vez, a guerra na Europa só se resolveu graças aos EUA, que ainda por cima ajudaram os países europeus na sua recuperação. Dupla humilhação. E, como se não bastasse, formaram-se dois grandes blocos: os aliados da URSS e os aliados dos EUA. A Europa, uma vez mais, precisou de recorrer à sua antiga colónia, aliando-se aos EUA. Paradoxal, não? Depois da queda do Muro de Berlim e do desmembramento da URSS, ficou muito mais confortável à Europa Continental armar-se em anti-americana. A Europa Continental é orgulhosa e não aguenta ter sido ajudada pelos EUA nas guerras e nos pós-guerra's. Não sabe reconhecer que foi salva pelos Estados Unidos. O anti-americanismo que cá se vive é não só profundamente injusto, como também uma traiçoeira expressão de má educação - somos mal agradecidos. Perante os novos perigos que se avizinham, a quem iremos recorrer? Não ser anti-americano não quer dizer que nos tornemos lacaios dos EUA. Mas é reconhecer o seu valor histórico e moral na reconstrução da Europa. Ser-se anti-americano é querer dividir o Mundo Ocidental, perante novos Mundos emergentes, como o Indiano e o Chinês.
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4. Os continentais. O TAM diz-se Continental, com C grande e pundonor. Mas resta saber de onde vem esse orgulho. De Rousseau e a sua vontade geral? Da Alemanha Nazi? Da França de Vichy? Da Itália de Mussolini? De Marx? De Hegel? De Lutero e Calvino? Do modernismo? Da liberdade contra a qual se atenta, da igualdade invejosa de diferenças e da fraternidade fraticida, apregoadas na Revolução Francesa? Voltemos à II Guerra Mundial, para ver como se portou a grande Europa Continental. A Inglaterra foi a única potência que se opôs à Alemanha durante toda a II Guerra Mundial. França, Espanha, Itália e outras nações continentais foram colaboracionistas nazis. Apenas Inglaterra aguentou firme nos seus ideais. E uma vez mais, a vitória não era possível sem a ajuda dos EUA. É esta a Europa Continental de que nos orgulhamos? Perdoem-me, mas recuso-me fazer parte desse grupo. Portugal na sua História foi mais sábio, e soube cultivar a mais antiga aliança do Mundo - com Inglaterra.
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5. Os impérios de influência. É claro que há impérios de influência. De todos os lados eles aparecem, e são vários. Recordo-me por exemplo de uma situação: uma aluna portuguesa foi fazer o seu PhD a Harvard. Ao voltar a Portugal, fez um pedido de equivalência para Doutoramento na Universidade Clássica de Lisboa. A universidade de cá recusou, dizendo que o PhD de Harvard corresponde a um mestrado de cá. Harvard respondeu a perguntar quantos prémios Nobel já sairam da Clássica. Sabemos o prestígio de Harvard, recorrentemente apontada como a melhor e mais completa universidade do Mundo. Este gesto da Clássica é ou não produto de uma influência anti-americana injusta? Vamos lá ser sérios. No que diz respeito a instituições de ensino, onde estarão as mais conceituadas (em todas as áreas): na Europa Continental, ou nos EUA e Inglaterra? Não é preciso uma grande tese de doutoramento da Clássica para responder a esta pergunta. Num plano mais político, vejamos só a forma como José Maria Aznar e o PP espanhol foram castigados por ir contra a influência anti-americana vigente: bombas, mortos, mentiras, manipulação dos media, tudo serviu para os afastar.
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6. Saudosismos. Na política, há pouco espaço para a saudade. A saudade deve-se viver no íntimo de cada pessoa, pois sempre que se tornou desígnio imperial deu grandes complicações. Ilustro esta afirmação com os primeiros três exemplos que me ocorrem: a) Hitler e a resposta ao Tratado de Versalhes, que humilhara uma Alemanha grandiosa. O resto da história já conhecemos, deu no que deu. b) Napoleão e a tentativa de recuperar França como um império. Conseguiu, mas durou pouco e o preço a pagar por isso foram todas as vidas que se perderam e o atraso económico que se sempre acontece após a guerra. c) Alexandre Magno, o Macedónio que quis dar à Grécia Antiga uma grandiosidade espacial que acompanhasse a grandiosidade espiritual, política e científica que a Grécia já tinha. O império construiu-se em poucos anos e, com a morte de Alexandre, destruiu-se em poucos anos. Muitos mais exemplos existem. O exemplo que nos é mais familiar é a teimosa insistência portuguesa na guerra colonial, a partir de certo momento.
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Quanto a mim? Português, Crente, mas Realista e pouco utópico.
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AVC

Relações, Impérios, Futuro e Loucura

Os Impérios não se esfumam. Evoluem, mudam de aspecto, adaptam políticas e instituições. Ou caem, dão lugar a outro ou outros e servem de lição obrigatória ao futuro descrente e decadente. Outros ainda refazem-se, retocam-se, porém, mantêm a essência, a vitalidade preponderante e a Alma(ou seja, o seu Povo). Não raras vezes, os que(e todos esses) que têm o dever -talvez já não haja deveres, portanto poderão ter o prazer- moral, histórico e, simultaneamente, básico de o defender, reconstruir ou animar, dependendo da fase de construção/degradação em que se encontram, acabam por fazer o contrário. E a missão sai em favor do inimigo, sempre presente e atento, que posteriormente o recompensará(ou não). Isto passa-se hoje nas Grandes-Nações, que não são necessariamente as Potências, mas são as que concorrem para esse lugar, que o ameaçam ou detiveram com relevância. Diz Fernand Braudel, que há Sociedades e Civilizações e estou em crer que assim é. Porém, hoje, as Sociedades são todas aquelas que se lembram da autonomia e se tornam Estados-locais e os que deles se separam e tornam-se parciais Estados-Nação; as Civilizações são as que a qualquer preço concorrem ao lugar de Potência, e as que para o Saber mundial fortemente criaram e contribuíram com conhecimento, tendo tido normalmente esse mesmo "posto" em alguma Época(as Civilizações históricas).
Os responsáveis culturais, económicos, governantes, cidadãos das Nações Contemporâneas são, contudo, tristemente, tentados e posteriormente manipulados(os que cedem, claro está) pelo lugar-comum reinante, a Cultura e Língua que lhes facilita o caminho e a Economia de onde surgem os apoios que apontam rumo à prosperidade e desenvolvimento(ou o que por isso o Estado-Reinante entende). Assim, é desde a I Grande Guerra tempo de os Estados Unidos da América(parte do Mundo-Novo) tentarem impor a sua mundividência, política de relações e (des)entendimentos, intimidação militarista e poderio económico ao Mundo. O Mundo -o Velho, o Milenar e o outro-Novo- reage. Aceita ou não, conforme circunstância potenciadas, também elas, por factores diversos e obscuros. As relações inter-nacionais e inter-continentais decorrem e desenrolam-se nos seus trâmites vulgares. Há, no entanto, excepções, pesos-relevantes, que "abanam" e não cedem às pressões que verticalmente são impostas rumo ao Sul e Oriente. São os Impérios antigos/medievais/ modernos a re-animar. É a cadência histórica a impor o ritmo a todos os que, assustadamente e com razão para tal, assistem ao reavivar das grandes Almas: os Impérios de Influência, a não sucumbir e eternamente presentes. Democratizam-se, retocam fronteiras, aceitam Novas Ordens Internacionais, adormecem mas são como os bonecos sempre-em-pé. Não sucumbem e são combativos.
É, pois, da primeira década do Século XX aos nossos dias, compreensível a tentativa dos E.U.A. de dominar tudo e todos. Por vezes, em vão. Também não é de estranhar, dada a ausência civilizadora braudelianamente defendida. Agora, nos meios intelectuais e académicos, mais implantada: pela facilidade, apoio e motivação que gera. Chegámos ao ponto de instituções de Ensino, internacionais mas localizadas, Crentes e fervorosas, se deixarem influenciar por ela... e Institutos específicos dentro das mesmas serem palhaços norte-americanos em seculares e basilares Civilizações Europeias. "Os Impérios Continentais? -Foram importantes, mas são ilusão." É a loucura estupidificante do chá de Boston.

Europeu, ainda Crente e Continental,
TAM

quarta-feira, julho 18, 2007

leitura de Verão



Júlio Dinis - A Morgadinha dos Canaviais (1868)

ilusões de óptica


Sócrates apresenta Portugal na União Europeia como a ponte para os negócios com o Brasil, como o fomos no tempo do Império marítimo. Já vamos tarde. Nem o Brasil nem a União Europeia precisam de nós para nada. A ponte, os barcos que descobriram o Brasil, é tudo passado. É tudo ilusão.

resultado da sondagem Curtas e Rápidas

A leitura das sondagens pode sempre ser manipulada de modo a tudo bater certo. Mas aqui não escondemos que a sondagem atingiu resultados bastante diferentes daquilo que realmente aconteceu em Lisboa. No entanto, nem tudo ficou perdido, pois fiquei a conhecer um pouco melhor acerca das intenções de voto daqueles que nos lêem. Assim sendo, resta saudar todos aqueles que nela participaram, com um muito obrigado. Os resultados da sondagem foram estes:

Carmona Rodrigues - 15 votos (26%)
José Pinto Coelho - 10 votos (18%)
Helena Roseta - 7 votos (12%)
António Costa - 5 votos (9%)
Garcia Pereira - 5 votos (9%)
Fernando Negrão - 4 votos (7%)
Branco - 4 votos (7%)
Gonçalo da Câmara Pereira - 3 votos (5%)
José Sá Fernandes - 2 votos (4%)
Ruben de Carvalho - 1 voto (2%)
Manuel Monteiro - 1 voto (2%)
Nulo - 0 votos (0%)
Pedro Quartin Graça - 0 votos (0%)
Telmo Correia - 0 votos (0%)

Total de participação - 57 votos

pensamento do dia

Sou paciente, porque sou pouco paciente. Não conheço uma pessoa que seja impaciente por natureza.

a justiça dos homens e a justiça de Deus

A definição clássica de Justiça é "dar a cada um o que lhe é devido", ou "dar a cada um o que é seu de Direito".
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No plano da sociedade humana, quando alguém comete o crime de roubar e é apanhado para ir a julgamento, é condenado a cumprir uma pena. Esta é a justiça dos homens. Se o indíviduo se arrepender do acto cometido, a pena pode ser encurtada e até perdoada. Mas o crime nunca é perdoado, pois o seu registo fica no cadastro do indivíduo.
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Mas se estivermos a falar da Justiça divina, o caso apresenta algumas mudanças. O mesmo crime (ou pecado) de roubar, ou qualquer outro pecado (ou crime), é condenável e condenado. No entanto, o crime pode ser perdoado - apagado - na sua totalidade, através do perdão. E mais ainda se ao perdão se seguirem boas obras, obras de amor. É impossível a um ser humano compreender a Justiça de Deus através de um raciocínio meramente racional e mundano. A Justiça de Deus baseia-se no amor, algo a que as nossas leis humanas não obrigam. É que, o amor, é para os homens muito mais do que dar a cada um o que lhe é devido. Mas para o Deus dos cristãos, o amor é o que devemos ao próximo, a todo e cada próximo. É uma Justiça muito mais exigente e difícil de teorizar e praticar.
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Parece que o desafio aqui é o de distinguir entre dois esquemas de pensamento com uma diferença muito subtil, mas ao mesmo tempo determinante: o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, e não é Deus que é criado à nossa imagem e semelhança. O tipo de Justiça que prega a doutrina divinizada do "olho por olho, dente por dente" não é uma doutrina do Deus que cria o homem à sua imagem e semelhança, mas sim do homem que projecta Deus como feito à sua imagem e semelhança.
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O homem tem em si muito de mundano para ser conquistado pelo divino. Nem tudo o que somos pode ser divinizado tal como está. Para o ser, é necessária uma dolorosa transformação, que apenas é sólida quando nos transcende. E apenas o amor nos transcende com a Justiça de Deus, pois essa é a Sua medida.
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O homem religioso parece calhado a viver com estes dois tipos de Justiça: a Justiça dos homens e a Justiça de Deus. Justiças diferentes, mas conciliáveis desde que a Justiça dos homens não obrigue o homem religioso a ir contra os seus princípios. É aqui que verdadeiramente reside a questão da liberdade religiosa: trata-se primeiramente da questão de conciliar as duas Justiças.

quinta-feira, julho 12, 2007

a minha escolha para a C.M. de Lisboa


Carmona Rodrigues.
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Porque ainda não tem muitos tiques de político.

Porque é simpático.

Porque é independente de partidos e propõe uma equipa despartidarizada (não sei se a palavra existe, mas percebem-me).

Porque este é, de facto, engenheiro (vá, processem-me!).

Porque foi eleito em Outubro de 2005 e o seu mandato foi interrompido. As razões pelas quais foi interrompido (acusações de corrupção ao vereador Fontão de Carvalho) foram arquivadas. É injusto que não continue até ao fim do mandato.

Porque o PSD se portou muito mal em todo este processo e está a fazer uma campanha contra o Governo e não por Lisboa.

Porque Telmo é mau demais. E a mensagem dele também tem muito a ver com o Governo e pouco a ver com Lisboa.

Porque António Costa saiu do Governo na altura em que era preciso um número 2 forte: quer porque Sócrates está mais preocupado com a presidência portuguesa da UE, quer porque os fogos estão aí à porta e Costa era Ministro da Administração Interna. Ninguém me garante que, quando ele for mais preciso na Câmara de Lisboa, ele não saia para um cargo mais apetecível. Lisboa está farta de ser viveiro de presidenciáveis que dela desistem.

Porque Ruben de Carvalho é CDU - uma coligação enganosa onde um partido inexistente chamado Partido Ecologista Os Verdes tem sempre lugar cativo para disfarçar o vermelhusco comunista. No entanto, embora os apoios sejam ideologicamente distantes de mim, vejo em Ruben uma pessoa empenhada.

Porque Sá Fernandes é "só fumaça" e o povo é sereno. Lisboa não precisa deste Zé.

Porque Pinto Coelho tem um discurso intolerante para com os emigrantes que já cá estão, e Lisboa tem muitos. Também não é este o Zé que Lisboa precisa.

Porque não sei o que é que Gonçalo da Câmara Pereira vai lá fazer.

Porque secretamente acredito que Garcia Pereira encarna a máxima de Manuel João Vieira - "só desisto se for eleito" - e eu gostava de o ver ainda por muitas e boas eleições a candidatar-se.
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Porque Manuel Monteiro fez o pior da campanha ao dizer que punha uma bomba em cada centro comercial, embora também tenha feito o melhor desta campanha: bloquear a sede da EMEL.
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Porque Quartim Graça concorre pelo partido onde Gonçalo Ribeiro Telles é a cara principal do projecto (MPT), e o arquitecto prefere apoiar Sá Fernandes.




Espero que Helena Roseta tenha votos suficientes para ser vereadora, porque quer unir esforços por um plano de emergência para Lisboa. Também não é apoiada por qualquer partido e desfiliou-se do PS para se poder chamar independente sem dúvidas. É uma pessoa trabalhadora, com princípios, luta pela emergência de associações da sociedade civil - dando um bom contributo para a cidadania portuguesa -, embora me distancie em muito das suas posições ideológicas, por exemplo em relação ao aborto e - aqui já tem a ver com a sua candidatura a Lisboa - em relação às quotas. Está disposta a colaborar, e isso é bom.

E espero que Carmona Rodrigues tenha a melhor votação possível.

mas afinal, o que é isto de se ser conservador?

Em política, o conservador é aquele que admira a antiguidade das instituições políticas, não pelo pó que têm, mas pelas provas dadas. As instituições políticas, tal como os direitos e os valores só têm legitimidade quando são celebradas pelo tempo e pelas provas dadas. Como tal, o conservador quer manter as instituições, reformando-as onde e quando for preciso. Aliás, o conservadorismo é a política do estritamente necessário para se manter a ordem, adoptando uma atitude reactiva face às circunstâncias (são as circunstâncias que dão valor aos valores) e deixando a criativadade para os cidadãos - nos dias de hoje, a chamada sociedade civil. É isto que se chama governar com prudência, lembra Edmund Burke. Para o conservador, o governante tem de ser humilde, não presumindo que a sua opinião é maior que o preconceito popular. O preconceito é uma palavra muito mal-tratada nos dias de hoje, muito à custa de liberais puros, como por exemplo John Stuart Mill. O preconceito não é mais que a sabedoria popular, instintiva, natural, que respeita os hábitos e costumes dessa comunidade, e que deve por isso ser valorizada e tida em conta pelo governante. O conservador é, assim, como que um aristocrata não-elitista. É-se conservador quando há uma disposição conservadora dentro de nós, como sugere Michael Oakeshott. Não é uma doutrina fixa, pura, dura. É antes uma disposição para disfrutar do que existe, gozando o que se tem o mais possível. É ter gosto pela liberdade, mas uma liberdade que não seja vazia de sentido e de intenções: a liberdade deve ser usada com sabedoria, com resposabilidade e moral. É também ter gosto pela educação, pela Natureza, pela arte e pela cultura. É valorizar o que aprendemos da geração que foi para entregarmos o tesouro do conhecimento à geração que vem.

segunda-feira, julho 09, 2007

Tocqueville - a profecia de um filósofo, político e sociólogo

Passava os meus olhos pelo livro Da Democracia na América, escrito por Alexis de Tocqueville, e deparei-me com uma magnífica profecia: em 1835, a data da primeira publicação do livro, este erudito aristocrata francês previu com bastante clarividência que, um dia, o poder do Mundo estaria dividido entre os Estados Unidos da América e a Rússia, como de facto aconteceu no século seguinte, entre 1945 e 1989. Senhor Tocqueville, com a devida vénia, passo a palavra a Vossa Excelência.

No mundo, existem hoje dois grandes povos que, embora partindo de pontos diferentes, parecem avançar para o mesmo destino: são eles os Russos e os Anglo-Americanos.

[...]

O Americano luta contra os obstáculos que a natureza lhe opõe; o Russo trava lutas contra os homens. Um combate o deserto e a barbárie; o outro, a civilização com todas as suas armas; deste modo, as conquistas do Americano fazem-se com a charrua do trabalhador, as do Russo com a espada do soldado.

Para alcançar o seu fim, o primeiro conta com o interesse individual e deixa agir, sem as dirigir, a força e a razão dos indivíduos.

O segundo, de certo modo, concentra num só homem todo o poder da sociedade.

Um tem por meio principal de acção a liberdade; o outro a servidão.

O ponto de partida de ambos é diferente, as suas vias são diversas; contudo, cada um deles parece chamado, por um destino secreto da Providência, a conservar um dia nas mãos os destinos de uma metade do Mundo.

Alexis de Tocqueville, Da Democracia na América, I, II, X.

quarta-feira, julho 04, 2007

declaração de independência

No dia 4 de Julho de 1776, há 231 anos atrás, a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América foi assinada por 56 senhores, representantes dos 13 Estados originais: New Hampshire, Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, New York, New Jersey, Pennsylvania, Delaware, Maryland, Virginia, North Carolina, South Carolina e Georgia.

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Esses homens, entre os quais se contavam, por exemplo, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e John Adams, defenderam neste dia que todos os homens são criados iguais por Deus, e que têm direitos inalienáveis, como o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade:


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We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed, by their Creator, with certain Inalienable rights, that among these are Life, Liberty, and the pursuit of Happiness.

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Neste dia histórico, o Mundo conheceu no "Novo Mundo" um mundo novo na forma de se fazer política, com moral e sem medo de mostrar a política como uma vertente de religião, no sentido de actuarmos de acordo com a forma com que Deus nos criou, e buscando a felicidade - que parece ser o objectivo de qualquer ser vivo.
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Foi também neste dia, há dois anos, que o Curtas & Rápidas começou: também lutando pelo direito à vida, com toda a liberdade de expressão - dentro da boa educação -, e buscando sempre novas pistas para esta busca da Felicidade, denunciando os obstáculos que nos dificultam este caminho. Estão de parabéns os caríssimos leitores e todos aqueles que contribuem para que este espaço exista hoje, com valor acumulado de dois anos. Obrigado!

terça-feira, julho 03, 2007

a revolução e o terror que silencia Portugal

Em Portugal, vivem-se tempos de grandes e pouco disfarçados (mas, apesar de tudo - e ao que parece - consentidos) atentados à liberdade.


Está em curso o cartão único, com informações identitárias, médicas e criminais, e direito a chip que facilmente se localiza através do sistema GPS. Sócrates afinal não é engenheiro, mas não se pode falar disso nem gozar com tal assunto. A provar o que digo, houve já o caso DREN. Directoras e directores de centros de Saúde que, pelo país, são trocados por boys e girls do PS que se portem bem. O caso Balbino Caldeira, do "Portugal Profundo" (com link aqui ao lado), que foi posto em tribunal por Sócrates. Jaime Silva, Ministro da Agricultura, em resposta a um pescador descontente com a política de pescas da União Europeia, sugere que ele saia da União Europeia. O Ministro da Saúde, António Correia de Campos, lembrou-se de - num tom jocoso que só o Governo pode usar - sugerir que se dessem os restos de medicamentos aos pobrezinhos. E até os poderosos empresários portugueses têm medo do governo: dos 25 que financiaram o estudo alternativo do aeroporto em Alcochete, só 5 se identificaram, pois os outros alegaram ter medo de represálias económicas (e acrescentaria, fiscais) por parte do Governo.


O perfil do Governo de José Sócrates é este. Tiques de despotismo, com uma grande dose de tirania, em jeito de revolução. E como bem anotou Napoleão, não há revolução sem terror. Eis o terror.