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Por Portugal enquanto é Tempo!
Paulo Portas ganhou as eleições directas do CDS, perdão, PP, com coisa de 75% dos votos expressos, ou talvez independentes. No discurso de vitória, falou de uma "era pós-ideológica" que vivemos, e que por isso quer aproximar o partido às preocupações dos portugueses. O que quer isto dizer? Significa que fica aqui uma justificação prévia para sempre que o PP abandonar os valores do partido: é porque não resolvem as preocupações dos portugueses nesse momento. Quando for preciso, o PP voltará a ser bengala de poder, em princípio do PS. Já não será a primeira vez, e dão-se bem assim.
Vejamos: o CDS-PP foi, às vezes, ou tem tentado ser, um partido de valores ditos de "direita". Com Paulo Portas, deixa definitivamente de o ser. A "realidade" para ele é agora mais importante que os valores. O seu discurso encaixaria na perfeição num comício do PS. E sem mudar uma vírgula. Porquê? Os valores não têm de ser reais, têm de ser orientadores, estão na dimensão do dever ser, mais do que na dimensão do ser. Os valores devem puxar-nos para cima, elevando a nossa realidade, e não apenas interpretando-a tal como realmente é. Para toda a esquerda socialista e agora também para Portas, estas duas dimensões colapsam-se numa só: passa a ser só a dimensão real, aquela que importa. Já não há espaço de ideologias, nem para valores. Já nada nos eleva.
Não acredito que o CDS-PP vá acabar agora, mas a direita dos valores ficou esvaziada de partidos. O CDS-PP deixou de ter consistência: não é de direita, não é de centro, não é de esquerda. É daquilo que der mais jeito às "preocupações dos portugueses". O PP até pode ser fixe, mas ficou sem espinha.
Na fotografia: Paulo Portas, sem corantes nem conservantes.
O candidato presidencial Sarkozy demonstrou uma grande coragem política ao falar de João Paulo II como exemplo, em plenas eleições duma França habituada a ser laica. Pior, normalmente anti-clerical.
Le Figaro. - Pourquoi, dans votre bouche, cette récente référence à Jean-Paul II ?
Nicolas Sarkozy. - Parce que c’est l’homme qui par la force de ses convictions a fait tomber le mur de Berlin. C’est l’homme qui a dit qu’il ne fallait pas avoir peur. C’est l’homme qui a su incarner l’ouverture et la fermeté.
Quel plus bel exemple ?
Na altura, a multiracial selecção francesa estava em baixo de forma, e como o povo se esquece rápido, pois os triunfos de '98 (Mundial) e 2000 (Euro) também foram graças à mesma selecção, Le Pen soube capitalizar esse descontentamento. O futebol foi um veículo de manipulação sentimental das massas, instrumentalizado pelos políticos. Como quase sempre, a paixão é melhor instrumento que a razão, quando o objectivo é obter o poder. Cá em Portugal, como sabemos, o futebol é a mais forte e consensual paixão que temos, enquanto massa manipulável e sinistra que é isto de sermos "povo". Quando os políticos de cá descobrirem como lidar bem com este bicho, estamos feitos. E para lá caminhamos, em condições. Valentim e Avelino são apenas tubos de ensaio autárquicos para projectos mais ambiciosos a nível nacional, e só assim se explica porque ainda se vão mexendo.