sábado, outubro 29, 2005

Sobre a "Idade Média"

Faz-me confusão a insistência em dar o nome de "Idade Média" a todo o tempo que passou entre a "Antiguidade" e o "Renascimento". A "Antiguidade" acabou com a conquista e consequente queda do Império Romano do Ocidente, no ano de 476 d.C. e formalmente começa aí a "Idade Média". Segundo os convencionados historiadores, a "Idade Média" acaba em 1453, com a conquista e consequente queda do Império Romano do Oriente, e o início formal do Renascimento. Não percebo porquê a teimosia de continuar a dar apenas um nome a esse tempo, pois todo esse tempo não é apenas um período, é não apenas uma idade. É um tempo escondido da História, é certo, daí o nome de "Idade das Trevas" ou "Dark Age" que às vezes substitui a denominação de "Idade Média".

Foram quase 1000 anos de evolução, não houve nenhum botão que fosse premido em 476 e então houve uma estagnação, nem houve nenhum botão que se premisse em 1453 e que daí resultasse uma repentina evolução! Houve evolução e foi uma importante evolução, essencialmente a nível moral, importante até para os dias de hoje, com obras muito actuais e muito secretamente seguidas por quem sabe. As poucas referências que se conhecem desse tempo nas aulas de ensino secundário são as de uma horrível e opressora entidade que era a Igreja Católica. É pois a Igreja Católica, a instituição ocidental mais antiga em funcionamento, uma das maiores vítimas destes historiadores (maçons, talvez?) que engenhosamente vão ludibriando a História a seu favor, mascarando o bem com o mal e o mal com o "bem"...

Ainda para mais, é fácil de descobrir um lapso nesta versão da História: comparar tempos, pessoas e hábitos com 1000 anos de distância e meter tudo isso no mesmo saco não é sério. É como um historiador do século XXX comparar um José Sócrates com um D. Afonso Henriques e, porque distam menos de 1000 anos de tempo, meter ambos no mesmo saco! Chocante mas vero.


AVC

6 comentários:

Paulo Cunha Porto disse...

O que o "post" defende está coberto de razão, Dizia um velho Professor de História que «o melhor conselho que podia dar aos alunos é que nunca esquecessem que um século tem... 100 anos».
Quanto aos valores daquilo a que reduzimos, habitualmente, a I.M., os sécs. XII a XV, tinham conformações espirituais tão aproveitáveis que o grande Berdiaeff falou da sua revivescência, em «Uma Nova Idade Média».
Abraço.

Sandokan disse...

Muito agradecido pela sugestão, que vou procurar com interesse.
Um abraço ao Grande Blogueiro Misantropo.

http://misantropoenjaulado.blogspot.com - obrigatório sempre que seja possível.

Anónimo disse...

Meu caro Sandokan, peço mil desculpas pela minha intromissão mas estás redondamente enganado. A idade Media começa em 476 d.c com a queda do Imperio Romano do Ocidente com a deposição de Rómulo Augusto e a subida do rei Ostrogodo que fica com o dominio do reino de Italia.

Agora no que respeita à Igreja Católica nestes tempos que mencionamos eu discordo nesse ponto. Era uma Igreja com Jlgamentos justos e que nem queimavam ninguém, tal e qual como nosso senhor mandou. Podemos dizer que foi um dos periodos, para a Igreja, mais marcantes de todo o tempo nao pela positiva mas de certo pela negativa e muito mesmo. Uma Igreja imprudente, calculista, ambiciosa e politica demais. Foi por isso que João Paulo II pediu tanto perdão pelas atrocidades que a Igreja CAtólica havia praticado incessantemente.

Daqui vai um abraço, sem ressentimentos,do Napoleão Bonaparte e do Dom Quixote.

Sandokan disse...

Caros Napoleão e Dom Quixote:
Agradeço a correcção e penitencio-me pelo erro que corrijo desde já. Sem querer menosprezar a vossa ajuda, Rómulo Augusto foi antes derrotado por Odoacro, rei dos Bárbaros Hérulos. Mas em 476 d.C., concerteza. Ostrogodo não é nome próprio mas sim a classe bárbara a que Odoacro pertencia.

Um abraço.

Anónimo disse...

Sandokan, venho por este pedir as minhas sinceras desculpas e deixa-me dizer
que tas coberto de razão no que respeita a questão da atribuição do reino de Italia depois da queda desse tao enriquecedor Imperio que ainda hoje produz a sua ifluência. Peço mesmo desculpa.

Voltei a ler esta passagem do texto: "Sobre a Idader Media" e esta parte em que se trata a igreja e pa min de total discórdia. Um desses casos e a doação de constantino que demonstra realmente essa falta de consciencia e loucura pelo poder que a igreja amibcionava a todo o custo. Também me choca mas acho que temos aceitar as coisas como elas eram. É apenas uma mera opinião espero que não leves a mal.

Um abraço
Napoleão Bonaparte

Sandokan disse...

Caro Napoleão:

Peço desculpa pelo atrazo da resposta. Quanto à tua opinião, não a levo a mal, longe disso! Penso até que não será tão diferente da minha como isso. Reconheço concerteza que a Igreja enquanto poder político teve grandes incoerências e foi pontualmente bastante perversa até, em tempos como o de Anacleto II e Inocêncio II, por exemplo. Papas judeus que só foram Papas pelo dinheiro que tinham, contra-Papas que combatiam pelas armas o poder na Igreja, foram factos inegáveis que fizeram a cadeira Papal ser por vezes desonrada. Ajustes infelizes mas normais, para qualquer instituição que move milhões de pessoas. E onde não se pode incluir a Inquisição, totalmente ao cargo dos países que a ela aderiram em nome da Igreja, mas contra a vontade expressa em documentos pela mesma. Para além disso, temos de ver a Igreja aos olhos da época: e não é com estes olhos que olhamos agora para as informações facciosas que nos são dadas pelos nossos "educadores"(!?)...
Para acabar, o que quero dizer com este post é que, apesar destas polémicas, no seio da Igreja Católica desse tempo chamado de "Idade Média" nasceu uma Moral que ainda hoje é seguida em vários pontos, houve grandes nomes da Filosofia Política que ainda hoje são actuais, como Santo Agostinho, Santo Anselmo, São Tomás de Aquino, tantos mais...
São estes nomes que os "educadores" de hoje injustamente esquecem, e são estes nomes que hoje devem ser lembrados. É a Igreja Católica feita por homens (e daí ter feito erros, muitos, pelos quais, aliás, o Papa João Paulo II pediu perdão no fim do seu Papado) que deve ser lembrada aos olhos da época. E lembrada não só pelos erros, mas principalmente pelo seu contributo à Humanidade, que a meu ver foi precioso.

Um abraço e obrigado pelo desfio muito interessante,

Sandokan