A Europa é, desde sempre, uma realidade histórica altamente complexa: todos sabemos que há traços altamente identificadores entre alguns Estados e Nações e reconhecemos, também, que, entre eles, há diferenças significativas. Isto é, os espaços(nações) tendo conseguido ou não atingir a autoridade governativa(Estados) têm especificidades tais que, mesmo tratando-se de um mesmo Estado, é possível vislumbrar diferenças em tradições, línguas e costumes regionais e locais. Outros há, como é o nosso caso, que grosso modo conseguiram fazer corresponder o Estado à Nação. Mesmo assim, e tratando-se do mesmo espaço geográfico - o Velho Continente-, na década de 50 do século XX, alguns países da Europa deram um passo importante e formaram a CECA, que deu, décadas depois, origem à União Europeia, da qual fazemos parte integrante. Este espaço, iminentemente económico, pretendeu desde a sua formação dar passos maiores e atingir a união política, de segurança e social. Contudo, sempre considerei que tais "obreiros" se esqueciam do espaço onde estavam a aplicar as políticas: não somos os Estados Unidos da América, onde a federação de Estados foi facilmente atingível e, até, desejada. A Europa integra Civilizações(com o peso que Fernand Braudel dá ao conceito) seculares, vincadas pelas miscelânea de culturas que nelas se verificaram durante os períodos de Expansão e Impérios e, portanto, são únicas e valiosas, mais-valias culturais quando bem integradas num sistema(até pode ser união) aberto e possibilitador de convivência harmoniosa. Agora esta união que nos tentam a aceitar, iminentemente hierarquizada e sub-valorizadora de alguns, quando menos relevantes no contexto mundial(para os parâmetros duvidosos tomados em consideração), só pode gerar desconfianças, desilusões e conflitos.
Portanto, em última análise, não seria mau se existisse uma política inter-nacional, com o estilo de uma organização internacional, para representar interesses comuns. Porém, uma política segregadora daqueles que, diacronicamente, são mais interessantes, a favor de índices económicos tão terrivelmente vulgares quanto importantes ao funcionamente do motor económico mundial, só pode ser nefasta a qualquer verdadeira tentativa de "Unidade na Diversidade".
Assim sendo, só apetece dizer: se é esta União que nos pretende governar, que futuro risonho poderemos nós, portugueses e europeus em geral, esperar para as nossas Pátrias?
Tendo em conta, como exemplo, a obrigatoriedade de comunicação numa única língua -já nem se aceita a expressão verbal ou escrita na 1ª Língua Cultural Moderna, le Français, quanto mais nas línguas nacionais, que na verdade têm estatuto oficial nas instituições comunitárias- é difícil poder-se esperar tolerância ou valor acrescentado desta União Europeia que, de Diversidade, permite pouco e, de Ditadura, assume muito.
TAM
domingo, junho 04, 2006
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4 comentários:
Exacto, uniões há muitas. Esta União Europeia não será nem a última nem eterna. Isto parece-me óbvio, embora quando se está fortemente drogado pela utopia não se pense sequer em tal hipótese.
Talvez seja pessimista estar já a ponderar o fim desta união entre estados europeus em fase ascendente, mas o que me interessa verdadeiramente é o que haverá depois dela.
Os nossos mais de oitocentos anos de História terão sido fortes o suficiente para renascermos no final desta aventura europeia? Teremos já consolidada uma cultura relevante e consciência da mesma para não nos esquermos de nós mesmo quando tivermos antes de tudo o resto de dividir uma bandeira com dezenas de estados-nação?
Infelizmente não viverei tempo suficiente para ver com os dois pés no solo as respostas as estas questões, que são as que me interessam, para as quais espero uma resposta mais luminosa que a coragem que foi necessária para rumar a um horizonte vazio sem conhecimento prévio do que estaria para além dele.
Abraço forte,
Tiago Tejo
Porquê "seu..."?
Na mesma linha da imortalizada frase do cinema Português: "Chapéus há muitos, seu palerma."; também eu quis dizer que uniões há muitas. Ou poderão existir, se assim for desejado, no entanto, nem todas são interessantes.
Grande Vasco Santana!
TAM
Óptimo texto, caro Tiago, seguido do um digno comentário do poeta Tejo! A experiência europeia vai-se parecendo um pouco com a jurisdição na justiça. Faz-se desta maneira agora e vamos ver se é o caminho certo para continuarmos a assim fazê-lo nos passos seguintes. O pior é se o passo é maior que a perna, contrariando a nossa conhecida política dos "pequenos passos". Temos assim um continente a caminhar para um vazio, que desconhece, dada ser esta uma experiência única na História, a de uma união de tantos Estados-Nação, de uma forma tão profunda e voluntária. Ora quando se caminha para o desconhecido, deve-se ser cauteloso, porque tanto nos pode esperar um futuro risonho, como uma encruzilhada, difícil de ultrapassar, e é essa cautela que parece faltar a alguns unionistas mais federalistas, que parecem ter pressa em nos tornar nos Estados Unidos da Europa.
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