domingo, janeiro 08, 2006

Um conto de Natal, como ele deve ser (atrasado, mas sempre oportuno)

Feliz Natal com muitos presentes..
Feliz? Presentes?
O Mãe, quero um super ultra telemóvel que faz com que tenhAS que contrair um crédito rápido, daqueles que te ajudam a ficar afogada em dívidas e com o futuro hipotecado, para que o MEU capricho possa ser satisfeito..
O Pai, quero o último modelo de um carro (afinal preciso mesmo para usar a carta, e TU não ME dás nada) que te faz contrair um empréstimo que hipoteca tudo o que possamos vir a ser como família no futuro.. Mas EU quero mesmo o carro, acho muito mais importante que EU possa ficar “feliz” agora e depois logo se vê o que acontece com o resto.. É tudo um monte de tretas..

Será que, por acaso, alguém se lembra do que é o Natal, o que ele verdadeiramente significa?
Vou contar-vos uma história:
Há cerca de dois mil anos, numa terra chamada Belém, nacscia um bebé, uma simples criança, pobre, com pouco mais que o amor dos Pais e uns trapos para se embrulhar..
(acham mesmo que esse bebé era pobre, com o AMOR dos Pais.. Será que precisava de muito mais que AMOR? Será que alguém precisa?)
Ora esse bebé, pobre e simples, revelou-se muito incómodo à sociedade do seu tempo. Teve Reis a persegui-lo nos primeiros meses de vida e partiu para o exílio. Já mais velho ensinava no templo, dando lições aos Doutores da Lei, embaraçando-os perante a sua sabedoria. Uns tempos depois tinha até discípulos, e dizem que fazia coisas extraordinárias, verdadeiros milagres contam, tendo mesmo chegado a arrastar multidões com ele, só para o ouvir falar!
Claro que quem é tão notório e ao mesmo tempo tão embaraçoso aos interesses instalados, não dura muito tempo sem ser atacado, e foi o que aconteceu, o nosso bebé, quando já era bem grande, nada bebé mesmo, sofreu uma tentativa de silenciamento, tentaram seca-lo.. Mesmo assim, ele resistiu, e a sua voz continuou a levar uma mensagem de solidariedade e de esperança aos mais desfavorecidos, e a todos os outros também, não é esquisito..

Hoje em dia, numa festa que seria para relembrar o que esse bebé fez por nós, nem sequer o deixamos nascer, ou melhor, ele nasce, mas secamo-lo logo..

O que conta são os presentes, e quanto mais, e mais caros melhor..
Claro que, como o dinheiro (esse estupor..) não estica, e como os meninos (às vezes bem mais velhos do que pensamos) não podem ficar sem os seus brinquedos, porque se não não são “felizes”..
A formula mágica nos tempos que correm é:

+ Dinheiro = + Consumo <=> + “felicidade”

Passo a explicar:
Quanto mais dinheiro houver, não importa qual é a fonte, mais se pode gastar, o que provoca um aumento do consumismo. Ora, supostamente, esse aumento do consumismo, traria felicidade, já que nos permite satisfazer as pseudo-necessidades que ele mesmo causa..
Vi um anuncio que dizia assim:
“Tenha de £500 a £4000 para fazer um Natal diferente!”
Eu pergunto-me, com que direito é que estas pessoas que criaram este anúncio usam o nascimento de alguém infinitamente maior que eles para promover a desgraça alheia? Sim, porque afinal de contas isto não passa de publicidade enganosa, destinada a aproveitar a falta de informação e os pontos fracos de pessoas menos esclarecidas, levando-as à sua ruína com promessas do contrário..
Como é que no Natal (e no resto do ano..) vivemos tão centrados no umbigo, tão preocupados com dar para depois podermos receber de volta?
Ironicamente dizemos viver em sociedade, mas não nos preocupamos com os vizinhos, quanto mais com qualquer pessoa que connosco se cruze na rua?
Mas quando toca a parecer mais do que somos (pela ostentação de modelos topo de gama e coisas no género, os tais que nos levam aos créditos..), não olhamos a meios.. Que hipocrisia..
No Brasil aprendi o que é a verdadeira felicidade.
É não ter nada e viver como um Rei;
É ser pobre e imensamente mais rico que qualquer outra pessoa;
É ser para os outros da mesma maneira que para nós mesmos, descomplicando, ajudando no que é preciso e tendo sempre um sorriso para dar, mesmo que seja a alguém estranho e diferente..
Lá, onde os bens materiais escasseiam, grassa a dádiva pessoal, aquela que não se compra nem vende, aquela que não se dá nem se recebe, aquela que se é e que se vive..
Sejamos dádiva neste Natal;
Sejamos Natal para os outros;
E se o Natal pode ser quando um ser humano quiser, então que o sejamos todo o ano..
Por isso não me desejem bom Natal, nem muitos presentes, que apenas nos trazem alegria momentânea, sejam felizes como são, não querendo parecer mais, mas entregando e vivendo tudo o que existem..
Hoje quero dizer a todos:
Neste novo ano, sejam Natal..