terça-feira, maio 08, 2007

"a doutrina separa, o serviço une"


Afinal o que é isto do Ecumenismo? Um lugar onde algumas religiões conseguem encontrar pontes de entendimento entre elas? Ou um plano para que essas religiões percam as suas especificidades e abdiquem de alguns princípios para formarem uma super-religião que abranja todas elas? Penso que não é preciso ir tão longe. Vejamos.




O diálogo entre religiões é necessário e encontrar pontos de encontro entre elas parece-me positivo. Desde que não se abdique de princípios fundamentais que tornam essas religiões singulares e únicas. Pode e deve haver conversas e conversões, mas nunca se deve mudar uma doutrina apenas para aproximar duas religiões numa lógica de aumentar os fiéis. Os fiéis podem e devem ser cada vez mais, se Deus assim quiser, mas através da conversão íntima de cada pessoa, e não através de cedências doutrinárias. O bom das doutrinas é que ao longo dos tempos não mudam e os valores são os mesmos desde o princípio: no limite, adaptam-se aos tempos renovando o modo de transmitir a mensagem, que - e repito - não muda. Se mudasse, não era uma doutrina, mas uma mera ideologia. E quem leva a sério uma religião que se baseia numa ideologia, que por definição é mutável?




O diálogo ecuménico a nível de doutrina parece-me um ponto demasiado sensível. Deve ser feito para encontrar as semelhanças, mas também as diferenças. É importante encontrar aquilo que nos une, mas é igualmente essencial não esquecer o que nos divide, ou que nos dividiu até agora. Entendeu-se no princípio do século XX (nos encontros de Edimburgo em 1910 e Lausana em 1927, entre outros) que a existência de várias religiões cristãs afectavam a divulgação de algo que as une: o Envangelho. Nesse aspecto, os encontros ecuménicos que se seguiram foram importantes para tentar encontrar uma coerência na forma de anunciar a Palavra de Cristo. Valeu a pena.


Lugares como Taizé, no sul de França, existem precisamente com o objectivo de unir os crentes protestantes, católicos e ortodoxos em torno do Evangelho e de orações comuns a todos, ou pelo menos que não vão contra a sua doutrina. É bom que tal aconteça e que aproxime as pessoas dos vários povos, desde que estes não queiram perder os laços com as especificidades das suas religiões. O objectivo de Taizé não é criar uma nova super-religião. É antes percebermos que pode haver entendimento sobre algumas questões.



Que questões são essas? É aqui, parece-me, que podem entrar os verdadeiros objectivos construtivos do ecumenismo. Primeiro, a ideia que a existência de uma paz entre religiões é meio caminho andado para uma paz durável entre os povos que, sendo irmãos, são agora mais fraternos. Depois, é prioritário que haja um entendimento sobre a Justiça, a Paz e as questões ambientais e ecológicas (ou em linguagem ecuménica, a "salvaguarda da criação"). É por aqui que o ecumenismo deve continuar a avançar, numa acção concertada pelos valores comuns que os povos cristãos defendem.


"A doutrina separa, o serviço une."

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