Tocqueville escreveu, em 1833, directamente para um taxista que apanhei ontem e que se queixava que lhe incomoda ver os banqueiros a enriquecer mais depressa que o resto das pessoas. Escreveu também para José Sócrates e a sua sede canuda de ser Engenheiro e de ver todos os portugueses licenciados através de Novas Oportunidades, que cheiram a mais licenciaturas às três pancadas e a preço de saldo. Escreveu ainda a todos nós, mulheres e homens que, se não nos pomos a pau, embarcamos também na onda igualitária que nos querem impor. Escutemos este Grande Professor (como lhe chamaria Leo Strauss):
"A paixão da igualdade penetra por todas as vias possíveis no coração dos homens, onde se expande até o encher por completo. De pouco vale dizer então aos homens que, entregando-se assim cegamente a uma paixão exclusiva, estão a comprometer os seus interesses mais caros; eles ficam surdos. Ou mostrar-lhes que a liberdade lhes escapa das mãos, enquanto estão a olhar para o outro lado; eles ficam cegos, ou melhor, em todo o universo apenas vêem um único bem digno de inveja.
(...)
Penso que os povos democráticos têm um gosto natural pela liberdade; entregues a si próprios, procuram-na, amam-na, e só dolorosamente se vêm separados dela. Mas, pela igualdade, a sua paixão é ardente, insaciável, eterna, invencível; querem a igualdade na liberdade e, se não puderem alcançá-la, desejam-na mesmo na escravidão. São capazes de suportar a pobreza, a servidão, a barbárie, mas não a aristocracia."
Alexis de Tocqueville, Da Democracia na América, II, II, I
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