quarta-feira, dezembro 07, 2005

Hobbes-me? Eu não...

Caro Tiago:

Leio com interesse os teus artigos e satifaz-me saber que este nosso diálogo tem sido seguido pelos nossos fiéis leitores. Com certezas, afirmo e reconheço que Thomas Hobbes é uma figura incontornável no pensamento político moderno. Embora nos dias de hoje seja mais conhecido enquanto o tigre de pelúcia de Calvin, Hobbes foi talvez o mais revolucionário dos filósofos da chamada modernidade porque, pela introdução de conceitos como o de "Estado de Natureza" ou de "Soberania", condicionou os termos em que as questões da filosofia política foram colocadas daí em diante. Neste aspecto, assumiu um papel fundamental como poucos.

Tudo isto reconheço e não desvalorizo. Ataco isso sim a sua teoria política, que defende um absolutismo delirante e altamente propenso a resvalar numa Tirania, a mais terrível das formas de Governo. A unicidade do Poder como Hobbes vê, o seu conceito de Soberano que levita acima da lei, toda esta falta de freios nesta cavalgada de um Poder cada vez maior é contra o nosso conceito de um Governo Limitado pelas Leis, pelos Direitos dos cidadãos e pelo Consentimento popular (à maneira de John Locke, outro grande filósofo da modernidade).

As ideias de que não existe um Finis Ultimus, nem um Summum Bonum pecam, como já disse anteriormente, por serem demasiado cientistas e Hobbes propor-nos que a Moral é o que é analisado cientificamente, e não o que deve ser. Os conceitos de Finis Ultimus e de Summum Bonum são efectivamente morais e regem o nosso comportamente, definem o nosso Norte, enfim, ergue em nós uma conduta ética de actuação na vida. Ora, a falta destas fasquias comporta uma fraqueza espiritual não vista até então, a fraqueza de quem não vê para além da ciência. E como sabemos, a ciência não traz resposta para tudo. Para além disso, esta ideia atenta contra a liberdade individual de cada um, sendo que é-nos imposto que devemos acreditar apenas no que é palpável e não nos dá espaço, a meu ver, para pensarmos e transcender nos aspectos onde é preciso procurar a verdade mais além.

Para além disso, não vejo grande inovação desta ideia comparando com a ideia de um moderno mais antigo, Nicolau Maquiavel, que dizia que ninguém consegue ser "perfeitamente bom" nem "magnificamente mau". Vem muito na mesma linha e a inovação não é, penso eu, tão completa como isso. Fico à espera de uma resposta a esta atrevida provocação! Um abraço,


AVC