sábado, dezembro 10, 2005

Mordaças

Em ditaduras, os rebeldes e os discordantes eram amordaçados pela censura, que lhes negava o direito de falarem livremente sobre tudo o que quisessem. Em muitos casos, e correndo o risco de ser politicamente pouco correcto, com bons frutos. Há ideologias que são autênticos cancros na sociedade, e que se devem combater de pequeninas. A questão é o método de o fazer.


Sim, o método. É que hoje também há notícias e informações filtradas, a um nível muito maior que no passado! A diferença está pois no modo de aplicar a censura. Dantes, à força. Hoje, encapotadamente. Dantes, sabia-se quem a fazia e as suas causas. Hoje, há uma censura sem rosto e de causas obscuras. Sou contra a censura violenta, registe-se. Mas esta censura é muito mais perigosa...

Sempre que se faz escolhas na redacção para decidir o que se publica ou não, e aquilo a que se dá maior destaque, há censura. Sempre que uma notícia aparece enfeitada de adjectivos elogiosos ou prejudiciais a algo ou a alguém, é pior que censura: é mentira. Um artigo aparecer como notícia e afinal ser um artigo de opinião, não é sério e revolta. E depois, o que está por detrás de tudo isto? Depende. Interesses pessoais, interesse público - raramente -, interesse de lobbies, interesses diversos.

O grande problema é as pessoas darem crédito a tudo o que lêem, acreditando em tudo o que vêem. Uma maneira moderna de censurar sem recorrer à força é dizer que alguém é mentiroso, ou doido, ou desiquilibrado. Se esse alguém quiser responder, ninguém o vai levar a sério, porque é mentiroso, doido, desiquilibrado. Vamos virar então o feitiço contra o feiticeiro, em nome da verdade! Denunciemos quais os orgãos de comunicação social que são mentirosos, delirantes, desiquilibrados. Assim talvez se ganhe alguma coisa em abono da verdade.

AVC

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