segunda-feira, fevereiro 26, 2007

apontamentos sobre o conservadorismo - I

Edmund Burke (1729-1797) é, se quisermos, um dos pais fundadores daquilo a que podemos chamar de conservadorismo britânico. A sociedade, para Burke, é um contrato. Mas não é um contrato à moda dos revolucionários franceses inspirados por Rousseau. Pelo contrário, a revolução é sempre evitável e indesejável. A prudência manda que a sociedade conserve as instituições que funcionam bem, e que lhes dê continuidade. Há pequenas arestas que é preciso limar na sociedade, fazem-se através de pequenas e cirúrgicas reformas, mudando só aquilo que deixou de funcionar, e não tudo como na revolução. O político deve ser, aliás, considerado como um médico ou um canalizador, que cura o organismo social apenas onde a doença existe ou concertando apenas o cano furado, sem ser preciso mudar toda a canalização, como fazem os revolucionários. Mais, o estadista deve operar quando é preciso operar e não quando apenas lhe apetece, adoptando assim uma atitude reactiva. Face a uma ideia política, um progressista perguntará: "porque não?". Enquanto isso, a pergunta do conservador será: "porque sim?". A prudência é um termo chave para se perceber um conservador à moda de Burke. Avalia-se todos os convenientes e inconvenientes de uma reforma, conservando tudo aquilo que funciona. O progressista ou o revolucionário não hesitam em adoptar uma disposição mais aventureira. Tudo isto seria muito bonito, não estivessem em jogo vidas humanas. O custo de aventuras revolucionárias é sempre demasiado grande. Para Burke, a sociedade é, de facto, um contrato. Mas um contrato entre os que estão vivos, os antepassados e os vindouros. Por respeito aos que nos legaram as instituições que temos e funcionam, por respeito às vidas humanas de hoje e por respeito às gerações futuras, há que ser prudente. Pois os que chegarem do futuro, vão querer uma habitação e não uma ruína.

2 comentários:

Tiago disse...

Muito correcto e sério, este teu apontamento sobre Burke. Gostei muito e foi ao encontro das minhas ideias acerca do Pensador e, em sentido mais lato, acerca do Conservadorismo.
Estou, por isso, mais descansado em relação às minhas breves noções sobre Edmund Burke. As tuas análises são válidas. A minha análise é próxima da tua, portanto, é válida.

Muito bem conseguido!
Congratulo-te,
TAM

Sandokan disse...

Obrigado, caro Tiago! Burke é um senhor com um pensamento admirável. No entanto, penso que o próximo postal vai-te desiludir... ou pelo contrário talvez já estejas à espera dele! Um abraço