quarta-feira, fevereiro 14, 2007

notícias do Helmand

Há notícias da província do Helmand, uma das mais violentas do Afeganistão. Esta semana, chegaram cerca de 700 estrangeiros para combater do lado dos Taliban, vindos principalmente do Paquistão, Uzebequistão e Tchechénia. Houve confrontos com os aliados, que conquistaram a barragem de Kajaki. Os Taliban fugiram sem grandes baixas, usando como escudos humanos - pela primeira vez nesta guerra - crianças.
Mas o que é de notar é que os Taliban vão-se defendendo nas montanhas, onde a 4000 metros de altitude combatem melhor que ninguém, pois para além de a tal estarem habituados, a composição do ar não deixa que a NATO realize operações aéreas de helicóptero.
Enquanto os Taliban resistem nas montanhas e dominam a região norte do Paquistão (a fronteira ali é apenas ficção, não existe) onde se refugiam, vão-se também reforçando com guerrilheiros internacionais bravos. Nós, NATO, discutimos se devemos ou não enviar mais tropas para o Afeganistão. Pior, estamos mais preocupados com o reforço ou não reforço de uma guerra que não nos diz tanto, no Iraque. Enquanto isso, os Taliban esfregam as mãos e agem.
A conquista da barragem de Kajaki foi importante do ponto de vista estratégico (fonte de energia e de água potável), no entanto está longe de estar assegurada. O Helmand sempre foi das regiões mais duras e violentas do Afeganistão. No tempo da Inglaterra imperial, os guerreiros afegãos batiam-se pelo Helmand com ferocidade. Há relatos muito duros sobre essa realidade. Quando apanhavam um pelotão de ingleses, os guerrilheiros abriam as barrigas dos soldados de modo a ficarem com as tripas à vista e a apodrecer ao calor de um sol que chegava e chega a ter 50º de temperatura durante o dia. Quanto aos oficais ingleses, os afegãos faziam-lhes uma atenção especial. Amarravam-nos, cortavam-lhes os testículos e faziam-nos subir para cima de um cavalo. Depois, punham nas suas bocas os testículos previamente amputados: e assim voltavam os oficiais para o seu quartel.
Hoje, os generais no terreno imploram por mais tropas, e nós não lhes ligamos a atenção devida. O guerrilheiro afegão é o mesmo, muito duro e sem intenções de brincar em serviço. Depois daquilo que aconteceu com Ingleses no século XIX e Russos no século XX, somos nós, NATO, que lá estamos no século XXI. Para onde andam viradas as nossas atenções?

4 comentários:

Tiago disse...

Captaste bem a atenção, ao ser tão objectivo na análise e claro na exposição do tema. Agora que lá estão/estamos, não há dúvida que devem ser ajudados(só se levanta a questão da legitimidade de lá estarem, mas são outras conversas).
um Abraço, Cientista da Política!
TAM

Sandokan disse...

Caro Tiago, penso que a legitimidade em relação à intervenção no Afeganistão não é tão discutida como a questão do Iraque. Penso ser legítima, esta "legítima defesa". Apesar das dificuldades, a verdade é que o Afeganistão hoje não tem condições para que a Al-Qaeda se treine e planeie mais ataques a solo americano, naquele espaço. E isso é de louvar. O problema é que lá não há condições: nem para isso, nem para quase nada de construtivo. Com mais tropas, era mais fácil de garantir condições para devolver o poder aos afegãos pacíficos e respeitadores de um mínimo de direitos humanos. Mas será que eles existem? Claro que sim, mas será que são suficientes para formar uma maioria? O que fazer com o Afeganistão?

um Abraço, Futuro Director!

J disse...

António,

O texto que escreveste revelou-se à medida que fui lendo, interessante, cativante e objectivo. Na verdade não sou grande conhecedora dos problemas internacionais, apesar de ler o jornal todos os dias, sei que há muitos problemas que não tenho noção e que devia aprofundar.

Fico sempre preocupada ao saber noticias do Afeganistão, será que alguma dia tudo se conseguirá resolver? Será que algum dia teremos mesmo respeito total pelos direitos humanos?

Sou optimista, e acho que esse dia há de chegar.

Rezo por esse povo que sofre, e para que haja coragem para ter ideias, planos e força para pôr este País em ordem, de impulsionar este povo que tanto tem sofrido a dar a volta à situação que o rodeia.

Um grande beijinho

Sandokan disse...

Querida Joana, o problema acontece quando a maioria dos afegãos querem uma ordem muito especial, muito deles, muito intolerável aos olhos ocidentais e dos direitos humanos. Forçar a liberdade? Liberdade forçada? É difícil esta questão, que é abraçada por uma cultura profundamente enraizada num povo habituado à conquista violenta da sua própria sobrevivência.

Com um beijinho e também com esperança, embora talvez não tanta!