quarta-feira, março 07, 2007

apontamentos sobre o conservadorismo - III

À direita, há propostas que não devem ser confundidas com o Conservadorismo. A ideia deste postal é apresentar quatro delas, e algumas das suas diferenças - mais ou menos subtis - em relação ao Conservadorismo, e não esgotando todas as possibilidades existentes: há mais.
Em primeiro lugar, temos o Fascismo, que, por inaugurar um novo ciclo prescritivo rumo a uma utopia, não pode tocar na mesma sinfonia conservadora, pois desafina. Para o Fascismo se concretizar, aliás, é preciso que se corte com certas tradições que, aos olhos do fascista, prendem os movimentos das pessoas para que voem até à sua utopia. Nem utopias, nem cortes com tradições são do agrado do conservador, que é realista e tradicionalista.
O Autoritarismo é, também, recorrentemente colado ao Conservadorismo, mas o Autoritarismo leva ao abandono das leis, e as leis são a garantia da continuidade das instituições, que devem ser defendidas pelo conservador. A autoridade emana das leis, o Autoritarismo surge da sua suspensão. A autoridade é aceitável, o Autoritarismo não.
O Elitismo é normalmente o que mais se confunde com Conservadorismo. Embora o conservador não negue a importância de haver uma elite competente, precisamos de afastar ideias erradas que frequentemente se atribuem à noção de elite. A aristocracia que interessa ao conservador não é a do berço d'ouro ou a do snob. Antes pelo contrário, essas não são as verdadeiras aristocracias. O que interessa aqui precisar é a noção de aristocracia natural, à qual pertencem aqueles que cultivam um certo tipo de virtudes. Se quisermos, a ideia de meritocracia é mais fiel à ideia de elite que queremos, ondes os valores e o mérito no seu emprego falam mais alto que berços d'ouro e que vanglórias. No entanto, o Elitismo como o conhecemos, falha no aspecto em que não considera no seu valor devido a sabedoria popular e "preconceituosa". O preconceito é o dever ser útil, através de um conhecimento imemorial e transgeracional que as pessoas têm, de uma forma instintiva e afectuosa, para agir com utilidade. O Elitismo desvaloriza estes aspectos, o Conservadorismo valoriza-os. Quem lhes dá o devido valor? Depende do ponto de vista que tivermos.
Por último, temos o Liberalismo Clássico. Aqui, a nossa tarefa de separar as águas parece ser mais simples. Temos liberdade quando temos um espaço onde agimos como queremos, sem que alguém nele possa interferir. A liberdade será tanto maior quanto esse espaço for de amplo. A liberdade absoluta, como sabemos, não existe como tal, pois colide com a liberdade dos outros. Para um liberal, isto chega. Para um conservador, também é importante que se garanta uma esfera de liberdade aceitável, mas isso não chega. É preciso estar-se educado para usar bem a liberdade, é preciso haver valores morais que não deixem que o conceito de liberdade se esvazie de sentido. A liberdade só pode acontecer quando é tutelada pela lei, e a intenção da lei liberal deve ser estudada para que não se caia no vazio que falamos.
É possível, e até provável, que a maioria das pessoas não seja inteiramente seguidoras de uma destas disposições políticas - e até pessoais -, no entanto parece-me útil precisar aquilo que não faz sentido que se confunda, nem que se cole imagens umas às outras e se ponham - em abstracto - "tudo no mesmo saco".

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